IPO: vale a pena investir?

Investimentos e o Mercado Financeiro

Frequentemente, investidores iniciantes no mercado financeiro se sentem atraídos por investir em IPOs, motivados pela possibilidade de lucros rápidos. Por mais que existam casos em que isso realmente acontece, é importante ter cautela. Na maioria das vezes, as ações não têm o rendimento esperado no longo prazo, e o investimento pode não ser tão vantajoso quanto parece.

Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo, certa vez declarou em um encontro anual da Berkshire Hathaway: “Você não precisa se preocupar com o que ocorre nos IPOs. As pessoas ganham na loteria todos os dias, mas isso não é motivo para você mudar sua estratégia de investimentos”. Com essa comparação, ele caracteriza o investimento em IPO como algo similar a apostar na loteria.

O que é um IPO?

IPO é a sigla para Initial Public Offering (“Oferta Pública Inicial”), que ocorre quando uma empresa emite ações para o público pela primeira vez. Antes do IPO, a empresa é caracterizada como uma empresa fechada, com um número limitado de acionistas. Ao abrir suas ações ao público, ela passa a ser negociada na Bolsa de Valores, permitindo que qualquer pessoa interessada invista na empresa.

Existem dois tipos de ofertas públicas de ações: primária e secundária. Na oferta primária, novas ações são emitidas e o valor captado é destinado à própria empresa, geralmente para fazer investimentos ou aquisições. Na oferta secundária, ações já existentes são vendidas, e o valor captado vai para os acionistas vendedores, e não para a empresa.

Vantagens do IPO para a empresa

Para a empresa, abrir o capital pode trazer diversos benefícios, como:

  • Captação de recursos: o IPO permite levantar o capital necessário para financiar o crescimento e o desenvolvimento de novos projetos.
  • Maior visibilidade e prestígio: uma empresa listada em Bolsa de Valores tem mais visibilidade e reconhecimento no mercado, o que pode facilitar vendas e aumentar seu lucro.
  • Atração de profissionais: empresas listadas têm a possibilidade de oferecer remuneração variável, inclusive com ações, tornando-se mais atraentes para profissionais talentosos.
  • Acesso a crédito: empresas de capital aberto tendem a ter mais facilidade para conseguir empréstimos a juros mais baixos, pois são vistas como mais transparentes.

Desvantagens do IPO para a empresa

Apesar das vantagens, o IPO também apresenta alguns pontos negativos para as empresas, como:

  • Divulgação de informações: a empresa é obrigada a divulgar informações financeiras, contábeis e tributárias, o que demanda tempo e dinheiro.
  • Custo elevado: o processo de IPO é caro e requer o apoio de uma instituição financeira, como um banco de investimento.
  • Diluição do controle: com a abertura de capital, os acionistas existentes podem perder parte do controle da empresa.

Casos de Sucesso e Fracasso em IPOs

Há exemplos notáveis de sucessos e fracassos entre os IPOs, tanto no Brasil quanto em outros países. Um exemplo de sucesso mundial foi o da Microsoft, cujo IPO serviu de inspiração para muitos investidores. Já a Boston Chicken é um exemplo de fracasso, pois, após uma valorização inicial significativa, a empresa teve uma desvalorização dramática a longo prazo.

No Brasil, podemos citar como exemplo de sucesso a Localiza (RENT3), que realizou seu IPO em 2005 e cresceu de forma consistente ao longo dos anos. Em contrapartida, a OGX (OGXP3), do grupo EBX, após um IPO promissor em 2008, teve uma desvalorização massiva no longo prazo, representando um fracasso no contexto de IPO.

Investindo em IPOs: Prós e Contras

Muitos investidores se sentem motivados a investir em IPOs devido à possibilidade de retornos altos em pouco tempo. Contudo, investir em IPO pode ser arriscado, principalmente se a estratégia de investimento for baseada apenas em expectativas de euforia do mercado.

Para quem busca retorno no longo prazo, como os investidores de valor, o investimento em IPO não costuma ser atrativo. Isso porque muitos IPOs ocorrem em períodos de otimismo excessivo no mercado, o que leva à supervalorização das ações. Quando o mercado entra em uma fase de pessimismo, essas ações têm grande chance de desvalorização.

Estudos, como o de Tim Loughran e Jay R. Ritter, mostram que as empresas têm tendência a realizar IPOs durante momentos de otimismo no mercado. Por isso, o investidor que compra ações durante um IPO, muitas vezes, acaba pagando um preço elevado. Isso ocorre porque o mercado, em um momento de euforia, tende a inflacionar os preços. No entanto, em algum momento, a realidade econômica faz com que os preços retornem a um valor mais condizente com a realidade, o que pode resultar em perda de valor para quem investiu durante o IPO.

Outro ponto relevante é o comportamento do mercado durante e após o IPO. Segundo Charles Lee e Richard Thaler, investidores tendem a se sentir otimistas durante o lançamento das ações, o que pode levar a uma forte demanda no primeiro momento. Contudo, a performance inferior a longo prazo é comum nesses casos, com os preços caindo após o hype inicial.

Aspectos Comportamentais e IPOs

O livro “Beyond Greed and Fear” de Hersh Shefrin aponta três fatores comportamentais que afetam o investimento em IPOs:

  1. Underpricing inicial: acontece quando o preço da ação é propositalmente colocado abaixo de seu valor, para garantir uma valorização inicial significativa.
  2. Desempenho inferior no longo prazo: muitas ações, após o hype inicial, tendem a se desvalorizar, resultando em uma performance inferior ao longo do tempo.
  3. Mercado otimista (hot-issue market): o ambiente de otimismo durante o lançamento de IPOs muitas vezes eleva a demanda e valorização das ações de maneira exagerada.

Motivos para Ficar de Fora dos IPOs

Investidores de valor, como Warren Buffett, preferem ficar de fora da onda de IPOs, e por boas razões. Estudos indicam que empresas que realizaram IPOs tendem a ter um desempenho inferior a empresas mais maduras no mercado durante os primeiros cinco anos após sua abertura de capital. Em termos de retorno, essas empresas costumam ficar abaixo do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que representa uma opção de renda fixa de menor risco.

Além disso, o IPO geralmente envolve empresas que ainda não possuem um histórico consistente no mercado, dificultando uma análise precisa sobre suas perspectivas de longo prazo. Com isso, torna-se mais arriscado prever se o negócio vai gerar um bom retorno para o investidor.

Investir em IPO pode ser como jogar na loteria: há uma chance de obter um retorno elevado, mas, em média, os riscos superam os benefícios. Como observa Buffett, “um IPO é como uma transação negociada – o vendedor escolhe quando vir a público – e é pouco provável que o momento seja favorável a você”.

Conclusão: Vale a Pena Investir em um IPO?

Antes de decidir investir em um IPO, é fundamental entender os riscos e estar preparado para possíveis perdas, principalmente no longo prazo. Para investidores mais conservadores ou que buscam uma estratégia focada em consistência e segurança, IPOs podem não ser a melhor opção.

Por outro lado, investidores dispostos a assumir mais riscos e que buscam oportunidades especulativas podem encontrar em um IPO a chance de retorno rápido. No entanto, é importante ter em mente que o risco envolvido é alto e que muitas empresas, após o IPO, não conseguem entregar o crescimento esperado.

Em resumo, investir em um IPO pode ser uma boa oportunidade, mas é necessário ter uma estratégia clara, estudar o mercado e a empresa, e não se deixar levar pelo otimismo exagerado que, muitas vezes, cerca o lançamento de novas ações. Como em qualquer outro investimento, o ideal é analisar as condições do mercado, avaliar se a empresa tem potencial de crescimento e garantir que o investimento esteja alinhado aos seus objetivos financeiros e perfil de risco.

Para muitos investidores, investir em renda fixa, como o Tesouro Direto, pode ser uma alternativa mais segura e rentável no longo prazo do que apostar em IPOs, especialmente considerando o risco de desvalorização das ações após a euforia inicial. Produtos como CDBs, LCIs, e Tesouro Selic são opções interessantes para diversificar a carteira e obter uma rentabilidade consistente, sem se expor aos riscos típicos de ofertas públicas iniciais.

Rolar para cima